Imagens aéreas mostram a dimensão do Festival do Açaí Orgânico em Igarapé-Miri
Ray Nonato,
Especial para o Bip-News
Apesar das dificuldades, milhares de pessoas conseguiram chegar à Ponta Negra do Rio Meruu, em Igarapé-Miri, no Baixo-Tocantins do Pará |
Para animar a festa, ainda houve
apresentações de bandas paraenses, como Haroldo Reis e Valbinho dos Teclados,
Marcos e banda, Kelly Cris e banda, Massarimbo e banda Amazom Life, escolha da
Miss Açaí Orgânico e uma série de palestras, mesas redondas e painéis com
vistas a trazer para o produtor de açaí miriense.
Realizado pelo Sindicato dos
Trabalhadores e Trabalhadoras de Igarapé-Miri (STTR), Associação Mutirão,
Associação de Mulheres, Cooperativa Agrícola dos Empreendedores Populares
(CAEPIM), Cooperativa de Desenvolvimento (de Codemi), Assentamento Agro
Extrativista (Pae) Emanuel e Instituto Caboclo da Amazônia (Incam), o evento,
ocorrido nas dependências da Associação Mutirão, contou ainda com as presenças dos
palestrantes Professor Isaac Fonseca, Antônia Feitosa e Vagner Nascimento, com
vasto conhecimento na área de produção agrícola e manejo, que discorreram para
o setor em torno do tema do Festival do Açaí Orgânico “Territórios na Amazônia:
comunidades de saberes à ação coletiva”.
José Raimundo Di, presidente da
Associação Mutirão, que, em 2020, completa 30 anos, explica que tudo começou em
2004, quando “nossas entidades (organizadoras do festival) receberam o selo que
outorga a produção coletiva à condição de orgânico. Ou seja, produzimos sem
degradar o meio ambiente, sem utilizar agrotóxicos, sem utilizar mão de obra
infantil, mantendo a biodiversidade, incluindo a manutenção das matas ciliares,
e naquele momento não se verificou algum vestígio de exploração na cadeia
produtiva, o que nos motivou a organizar este que será agora o nosso 15º
festival para promover a produção do açaí orgânico”.
Zé Di, como é mais conhecido o
produtor, explica que a associação surgiu na localidade de Ponta Negra, às
margens do rio Meruu-Açu, onde a comunidade está sempre empolgada pela
realização do Festival, por meio do qual é mostrado para o Estado, o Brasil e o
mundo, a importância da produção de açaí orgânico do ponto de vista da
preservação do meio ambiente, especialmente as mata ciliares e a não utilização
de mão de obra irregular, como de crianças, o que ainda se observa pelos
rincões do Brasil.
“Quando saboreamos o açaí em
nossas mesas, muitas vezes, não imaginamos como foi para que esse líquido
gostoso chegasse até nós, que é fruto de um trabalho incansável, que começa
antes mesmo do dia clarear, sob sol e sob chuva”, explica.
O EVENTO
No final da década de 90, Igarapé-Miri
passou por um processo de transição na agricultura. Era o fim do ciclo
produtivo da cana de açúcar, que chegou a contar com 56 indústrias, cujo
fechamento em série produziu um cenário de miséria e desesperança, sobretudo
nas camadas mais modestas da sociedade ribeirinha miriense, forçando inúmeras
famílias a buscar alternativas de sobrevivência em outras cidades. Assim, naquele
momento florescia o movimento promovido pelas Comunidades Eclesiais de Bases,
que se ocuparam em discutir uma alternativa que trouxesse em um curto prazo uma
autonomia financeira a milhares de famílias. O açaí, já em larga escala de
produção no município, passou a ser a bola da vez e os investimentos e apostas
deram certo. As famílias que até então estavam se destruindo, se separando, se
voltaram para a agricultura, para a produção do fruto, o que redundou na
organização de um evento que mostrasse essa cadeia produtiva. Surgia, assim, o
Festival do Açaí Orgânico.
A partir do segundo ano, as
entidades envolvidas com o evento buscaram inserir na pauta do festival, discussões
inerentes ao cotidiano dos trabalhadores. Assim, a cada ano, de acordo com a
demanda das organizações coletivas, são planejados e implementados seminários,
debates, rodas de conversa, cursos e ciclos de palestras que objetivam
esclarecer cada vez mais produtores, apanhadores (peconheiros), amassadores,
industriais e outros quanto à modernização para o manuseio e aumento da
produção do fruto, cujo suco é parte do cotidiano da alimentação paraense.
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