Imagens aéreas mostram a dimensão do Festival do Açaí Orgânico em Igarapé-Miri



Ray Nonato,
Especial para o Bip-News
Apesar das dificuldades, milhares de pessoas conseguiram chegar à Ponta Negra do Rio Meruu, em Igarapé-Miri, no Baixo-Tocantins do Pará
Com uma programação diversificada voltada para divulgar a produção de açaí orgânico na localidade de Ponta Negra do Rio Meruu, no município de Igarapé-Miri, o maior produtor do fruto no Estado do Pará, a Associação Mutirão promoveu, no período de 25 a 27 de outubro, o XV Festival do Açaí Orgânico, um evento que neste ano atraiu para a distante localidade mais de oito mil pessoas que receberam cerca de 700 litros do suco de açaí, saborearam mingaus, pudins, sorvetes, bolos, doces e até comidas a partir deste fruto que já é conhecido em vários pontos do Brasil e do mundo, tornando-se um dos alimentos do world business.
Para animar a festa, ainda houve apresentações de bandas paraenses, como Haroldo Reis e Valbinho dos Teclados, Marcos e banda, Kelly Cris e banda, Massarimbo e banda Amazom Life, escolha da Miss Açaí Orgânico e uma série de palestras, mesas redondas e painéis com vistas a trazer para o produtor de açaí miriense.
Realizado pelo Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras de Igarapé-Miri (STTR), Associação Mutirão, Associação de Mulheres, Cooperativa Agrícola dos Empreendedores Populares (CAEPIM), Cooperativa de Desenvolvimento (de Codemi), Assentamento Agro Extrativista (Pae) Emanuel e Instituto Caboclo da Amazônia (Incam), o evento, ocorrido nas dependências da Associação Mutirão, contou ainda com as presenças dos palestrantes Professor Isaac Fonseca, Antônia Feitosa e Vagner Nascimento, com vasto conhecimento na área de produção agrícola e manejo, que discorreram para o setor em torno do tema do Festival do Açaí Orgânico “Territórios na Amazônia: comunidades de saberes à ação coletiva”.
José Raimundo Di, presidente da Associação Mutirão, que, em 2020, completa 30 anos, explica que tudo começou em 2004, quando “nossas entidades (organizadoras do festival) receberam o selo que outorga a produção coletiva à condição de orgânico. Ou seja, produzimos sem degradar o meio ambiente, sem utilizar agrotóxicos, sem utilizar mão de obra infantil, mantendo a biodiversidade, incluindo a manutenção das matas ciliares, e naquele momento não se verificou algum vestígio de exploração na cadeia produtiva, o que nos motivou a organizar este que será agora o nosso 15º festival para promover a produção do açaí orgânico”.
Zé Di, como é mais conhecido o produtor, explica que a associação surgiu na localidade de Ponta Negra, às margens do rio Meruu-Açu, onde a comunidade está sempre empolgada pela realização do Festival, por meio do qual é mostrado para o Estado, o Brasil e o mundo, a importância da produção de açaí orgânico do ponto de vista da preservação do meio ambiente, especialmente as mata ciliares e a não utilização de mão de obra irregular, como de crianças, o que ainda se observa pelos rincões do Brasil.
“Quando saboreamos o açaí em nossas mesas, muitas vezes, não imaginamos como foi para que esse líquido gostoso chegasse até nós, que é fruto de um trabalho incansável, que começa antes mesmo do dia clarear, sob sol e sob chuva”, explica.

O EVENTO
No final da década de 90, Igarapé-Miri passou por um processo de transição na agricultura. Era o fim do ciclo produtivo da cana de açúcar, que chegou a contar com 56 indústrias, cujo fechamento em série produziu um cenário de miséria e desesperança, sobretudo nas camadas mais modestas da sociedade ribeirinha miriense, forçando inúmeras famílias a buscar alternativas de sobrevivência em outras cidades. Assim, naquele momento florescia o movimento promovido pelas Comunidades Eclesiais de Bases, que se ocuparam em discutir uma alternativa que trouxesse em um curto prazo uma autonomia financeira a milhares de famílias. O açaí, já em larga escala de produção no município, passou a ser a bola da vez e os investimentos e apostas deram certo. As famílias que até então estavam se destruindo, se separando, se voltaram para a agricultura, para a produção do fruto, o que redundou na organização de um evento que mostrasse essa cadeia produtiva. Surgia, assim, o Festival do Açaí Orgânico.
A partir do segundo ano, as entidades envolvidas com o evento buscaram inserir na pauta do festival, discussões inerentes ao cotidiano dos trabalhadores. Assim, a cada ano, de acordo com a demanda das organizações coletivas, são planejados e implementados seminários, debates, rodas de conversa, cursos e ciclos de palestras que objetivam esclarecer cada vez mais produtores, apanhadores (peconheiros), amassadores, industriais e outros quanto à modernização para o manuseio e aumento da produção do fruto, cujo suco é parte do cotidiano da alimentação paraense.
                                                                                                                            

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