O som das aparelhagens está de volta




Terminadas as férias, Djs e suas engrenagens sonoras voltam a estrondar o som que o Pará gosta na noite de Belém e região



ROBERTO BARBOSA
Especial para o Jornal Popular e Bip-News

Foto da aparelhagem sonora Rubi, com mais de 60 anos de tradição no Estado do Pará. Foto: Jorge Nascimento

Foi-se o tempo em que só se viam aparelhagens sonoras – como eram chamadas antigamente – em épocas de festas de terreiro. Aliás, esse tempo foi embora há décadas. As festas em clubes e sedes dançantes passaram a ser feitas com apoio dessas verdadeiras engrenagens que, no Maranhão, são chamadas radiolas.
Mas é no Pará que essas aparelhagens tomaram forma e corpo independentes.
Esse salto de modernismo tem histórias e histórias. Nos anos 60, as aparelhagens sonoras eram compostas da mesa com projetor e dois toca-discos, além de um gravador. Não havia caixas, mas sim, projetores de som afunilados, dispostos em postes ao longo de onde ocorreria a promoção dançante.
Ao final desse tempo, começaram a surgir os grandes projetores. Já eram caixas de madeira, bastante modernas se comparadas com os funis e com poder sonoro bem superior. Chegam os anos 70. É fim de Jovem Guarda, revolução do rock, mistura com bossa nova e anos rebeldes. O Brasil está enfrentando a Repressão Militar iniciada em 1964, mas a juventude quer se divertir, misturar rock, samba, sexo, bebida alcoólica e maconha. O som precisa ser alto.
É em 1975 que aparece um ritmo ousado e diferente surgido nos Estados Unidos da América. É a discothèque. Não demora muito, essas músicas dominam as paradas de sucesso das rádios AM em Belém que, na época, contava apenas com quatro estações (PRC-5 Rádio Clube do Pará, Super Rádio Marajoara, Rádio Jornal Liberal e Rádio Guajará). As aparelhagens sonoras começam a aparecer fora das festas juninas, agora, para apimentar o som da discothèque que tomava conta do mundo musical.
Quase não se ouvia mais música popular brasileira. Era só música norte-americana, francesa e alemã, todas no mesmo ritmo que contagiava a juventude. Época das garotas com calça Jeans de boca bem apertada, tênis branco e camisa social de mangas compridas. Os rapazes, em geral, com calça e camisa social, além de um sapato bico fino marrom. Para incrementar mais ainda, vem o filme norte-americano “Os Embalos de Sábado à noite”, com John Travolta, cuja história se passa em torno de um concurso de dança no Studio 2001.
Em Belém surgem várias discotecas como Camel’s, Signos Clube, Ginzas, Playboy etc. Nesse embalo, as aparelhagens buscam a renovação, cujo apogeu vem surgir na década de 1990. Nesta altura, o já velho ritmo discothèque já passou por várias evoluções. Foi dancing, thecno, midback e se transformou em flashs como se conhece e executa na noite paraense para os aficcionados dos anos 70.
Já não eram apenas os donos de aparelhagens. Eles se transformaram em grandes empresários que fizeram investimentos no negócio, cada um montando a engrenagem mais fantástica. O equipamento que antes era transportado em uma caíca, agora, precisava de carretas para ser levado até o local onde seria montado através do movimento de diversas pessoas. E para movimentar toda essa engrenagem, os Djs passaram a ser chamados. Hoje, festa sem Dj não é festa. A juventude quer ouvir o ritmo embalado do tecno melody e a falância dos Djs mandando “alôs” para todo mundo.
Até mesmo CDs piratas estão sendo gravados em nome dessas aparelhagens, cada um a seu jeito, a seu termo. Esse som das aparelhagens contagiou tanto que até algumas emissoras de rádio FM, como a Marajoara, a Liberal, a Rauland, a 99 e a Metropolitana, dedicam programas para movimentar o ritmo. “Esse pessoal das aparelhagens são verdadeiros heróis da cultura paraoara”, afirma o deputado federal Wladimir Costa, que é um dos grandes fomentadores das aparelhagens de Belém e do interior. Ele cita Belém, Vigia, Barcarena e Santa Izabel do Pará como cidades que detém nomes importantes e tradicionais das engrenagens sonoras que ultrapassaram as fronteiras do Pará em fama e chegaram à Rede Globo com as bandas paraenses.

Deputado do PT quer transformar as
aparelhagem em patrimônio cultural

O deputado estadual Carlos Bordalo, do Partido dos Trabalhadores, apresentou um projeto de lei na Assembléia Legislativa do Estado que beneficia as aparelhagens sonoras.
Pelo projeto, o parlamentar quer transformar essas iniciativas em patrimônio cultural do Estado do Pará. Em discussão, o projeto de lei, que ainda não foi levado à votação, já foi alvo de muitos debates e polêmicas. Entretanto, Bordalo diz que não se pode mais dissociar a presença das aparelhagens sonoras do ambiente cultural do povo paraense que está acostumado com essas engrenagens nas principais promoções festivas que acontecem em qualquer parte da capital e interior do Estado.
Tão importantes são as aparelhagens, que seus proprietários já foram contratados para fazer o apoio de grandes shows para cantores famosos de nível nacional que se apresentam nos grandes clubes do Estado. As aparelhagens sonoras, diz o radialista Carlos Bahia, da Metropolitana FM, “por si só já fazem o show. Tem gente que vai para uma festa dependendo de qual aparelhagem vai estar presente. As pessoas vão pela batida musical, pela simpatia do Dj ou, simplesmente, pela aparelhagem, muitas das quais tem os seus fãs, como o Pop Saudade, o Fusquinha da Saudade, Sinster, Diamante Negro e até a hoje pequena grande Flamengo, que faz parte da história das aparelhagens sonoras oriundas dos anos 70.

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