O tesouro que guarda uma fábula
A transmissão da história, o conhecimento, tudo o que temos, e tudo o que somos, não está apenas nas memórias cibernéticas, disquetes, pendrives e páginas virtuais



ROBERTO BARBOSA
Da Redação



Para quem não sabe, o sânscrito seria a primeira língua falada e escrita que a humanidade tem conhecimento e que foi descoberta a partir do momento em que a Linguística passou a ser tratada verdadeiramente como uma ciência. É a partir dos escritos nas pedras e pergaminhos, na pintura e nas fontes arqueológicas de milhões de anos que o homem contemporâneo pôde chegar a dados quanto à sua origem – para quem é adepto do evolucionismo, prato cheio. Mas, a verdade é que, entre as descobertas fantásticas da humanidade está a escrita, tão importante quanto a roda, o telefone, o carro, a fotografia (retrato, lambe-lambe, o que é isso?), a lâmpada. Quantas páginas de JORNAL POPULAR seriam necessárias editar para enumerar as descobertas do homem desde a idade da pedra até nossos dias?
Não são as respostas, mas sim as perguntas que movem o mudo. Isso porque, o mundo é dinâmico. A partir do momento em que se tem conhecimento, parte-se para novas pesquisas. E se pesquisou tanto que se chegou ao sânscrito, como a língua mais velha do mundo.
Pois bem, aqui está o objeto desta reportagem feita pelas ruas de Belém do Pará, onde ainda é comum a visita ao sebo. Ah, bom, o que é o sebo? O sebo são livrarias, bancas de revistas e jornais usados, tão comuns pelas ruas da cidade, como nas universidades e até pelo centro da capital paraense. Um dos sebos mais famosos fica localizado na Rua Aristides Lobo, entre as travessas Padre Prudêncio e Frutuoso Guimarães, no bairro da Campina, área nobre de Belém.
Nesses locais estão os “cofres”, os “tesouros” que contém a fábula chamada conhecimento, uma das maiores riquezas do homem. São os livros, estes objetos de desejos de poucos, dado que a leitura, a cada dia, vai se distanciando do homem moderno. Os jovens e as crianças, então, estão cada vez mais distantes. Grudados na tela do computador e do telefone celular, livros, pra que te quero? Mas são nos livros, novos e velhos, que estão todas as informações, o conhecimento e, por que não, a diversão, afinal, quantos homens e mulheres se dedicaram e continuam a se dedicar a escrever romances, histórias das mais diversas, ficções, estudos, contos, poesias, ensaios, biografias, reportagens. O livro “Código Da Vinci” bateu recorde em vendas.
Mesmo já morta, a escritora inglesa Agatha Christie ainda é recordista em venda com seus romances policiais. Ela é considerada “a dama do crime” com seus personagens famosos Miss Marple, a velinha bisbilhoteira que desenrolava um crime de forma muito elementar e inteligente, e Hercule Poirot, o belga orgulhoso cuja inteligência era de dar inveja a qualquer policial da vida real.
Há histórias narradas com base em fatos reais, como o livro “Caixa Preta”, igualmente recordista em vendas e que conta detalhes sobre graves acidentes aéreos ocorridos no Brasil. O mais famoso best-seller é a Bíblia Sagrada, onde estão narrados fatos da história da humanidade segundo o Cristianismo.
Muitas pessoas acham a leitura enfadonha, cansativa. Outras alegam não ter tempo. Outras admitem preguiça para ler. Mas, a verdade, é que a leitura deveria ser fomentada a partir da família e da escola. Mesmo assim, nada de adaptações eletrônicas conta com precisão de detalhes uma história melhor que um livro. Em “Christine, o Carro Assassino”, a história contada no livro é de dar calafrios. A mesma história não tem tanta penetração e riqueza na versão para a televisão, onde são dezenas os detalhes não explicados como acontece no livro.
Pois bem, este último exemplo de romance em livro foi encontrado pela reportagem deste jornal num sebo da cidade, onde também se encontram livros didáticos, livros de direito, livros de medicina, espiritismo, histórias de santos, histórias protestantes, enciclopédias completas que custam verdadeiras fábulas se compradas em livrarias, novinhos nas caixas.
Antonio Roque Nunes Pereira, de 58 anos, tem uma banca de livros e revistas tipo sebo na Avenida Magalhães Barata, em São Braz. Ali, ele está instalado faz 30 anos. Antigamente, ele trabalhava com frutas, mas viu que, vender, comprar, trocar e receber doações de livros era um bom negócio, afinal, poderia ler, se divertir e ganhar seu dinheiro sem se sujar muito. Não é todo dia que Roque vende livros, mas sua banca é freqüentada por intelectuais, curiosos, médicos, advogados, pessoas que procuram livros que não estão mais nas prateleiras das livrarias mais famosas de Belém.
Segundo Roque, um livro na sua banca pode custar até 70% mais barato que nas livrarias. Uma revista que custa em média, R$ 12,00, ele comercializa a R$ 5,00. São revistas e livros usados, mas que ainda servem para muita gente, diz o vendedor que também aceita doações. “Muita gente quer se desfazer de seus livros velhos, de suas revistas e acabam me doando. Eu pego e posso vender aqui. Assim, a gente vai vivendo”, diz.
Roque pondera que as vendas caíram muito nos últimos tempos, mas diz que isso decorre do advento da internet. A pessoa quer um livro, pede pela internet e nem precisa sair de casa que o Correio deixa no local. Contudo, diz, ainda dá pra viver de vender livros e revistas usados.
Outro comerciante do ramo de sebo é Francisco Pereira Assunção, também de 58 anos. Está no comércio de livros usados há seis anos. Antigamente, ele trabalhava com bombons. Um dia, encontrou um monte de revistas jogadas no lixo, juntou e vendeu quase tudo no mesmo dia. A partir daí, passou a trabalhar com revistas e livros. Sem saber fazer matemática corretamente como fez seu colega Roque, ele diz que seus produtos são mais baratos apenas 10% em relação aos praticados pelas grandes livrarias da cidade. Contudo, diz que não consegue vender todo dia. Por isso, calça seu comércio com venda de água, refrigerantes e chopes.
Mas também garante Francisco que tem livros jurídicos e de medicina, que tem boa procura por quem vive nessas áreas.
Certo é que, nesses locais, há muitos tesouros em forma de livro, onde estão as fábulas do conhecimento.

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