Ladrões impõem terror nas
viagens intermunicipais

Quadrilhas agem na PA-150, entre Goianésia e Jacundá, principalmente nos expressos noturnos

Não obstante o fato de as autoridades policiais virem envidando esforços para garantir a segurança de passageiros de ônibus intermunicipais, os assaltos nas estradas paraenses que levam às regiões sul e sudeste paraenses continuam acontecendo em larga escala, sem que nenhum bandido tenha sido preso até então. Nas viagens noturnas, o medo, o estado de pânico são constantes entre passageiros e tripulantes de ônibus, sobretudo da empresa Transbrasiliana. Os assaltos ocorrem durante as noites e madrugadas, em geral, no trecho compreendido entre os municípios de Tailândia, Goianésia do Pará e Jacundá.
A reportagem conversou no início desta semana com um motorista que faz linha Belém-São Félix do Xingu e vice-versa. Ele disse que, “graças a Deus”, nunca foi assaltado, mas informou ter conhecimento que há colegas seus que hoje não estão mais em atividades por terem ficado mentalmente perturbados com essas ações. Contou, por exemplo, que, ano passado, um ônibus da Transbrasiliana despencou ponte abaixo, caindo em um igarapé. Não houve perda de controle da direção coisa nenhuma. Ele acabara de ser baleado na cabeça por um ladrão que integrava um bando. Houve dois fatos interessantes nesse caso: nenhum passageiro e nenhum dos motoristas morreu. Na verdade, morreu um dos bandidos, porém, o motorista baleado na cabeça, sobreviveu, mas ficou sem noção das coisas. Hoje, ele mora em Belém e, quando vê alguém falando com ele, apenas acha graça, pois não tem mais ideia da vida real.
De acordo com o motorista, os bandidos embarcam no Terminal Rodoviário em Belém ou pelo meio do caminho, como passageiros normais. Não há fiscalização contra entrada de armas nos ônibus assim como acontece nos aeroportos, onde há detectores de metais e há todo um procedimento de embarque. No terminal, o embarque é livre, o que facilita a ação dos bandidos. O mesmo acontece nas rodoviárias do interior do Estado. O problema é quando os ônibus entram no período tido como “linha vermelha”. Motoristas e passageiros já ficam tensos. De repente, um dos bandidos se levanta e encosta a arma na cabeça do condutor. “Tu já sabes que isso aqui é um assalto, não sabes? Segue as instruções e ninguém morre. Não baixa a mão, não usa luz nenhuma que eu te mato”. Na mesma ocasião, outro bandido já está nos fundos do veículo prestando atenção. Se descobrirem policial a bordo, eles matam sem piedade, como se mata uma barata ou um rato.
Em ato contínuo, o bandido que dominou o motorista, fala que vai emparelhar um veículo menor. A instrução é para que o motorista siga esse carro. Ali já estão os demais integrantes do bando que vão fazer a “limpeza”.
“Eles não respeitam ninguém, humilham, batem, dão coronhadas. Antigamente, não mexiam com os motoristas. Agora, eles já levam tudo. Quem não tem nada, está arriscado a morrer. Mulheres, eles só tratam de vagabunda pra baixo. Muitas vezes, levam mulheres bandidas para meterem as mãos nas genitálias e seios das mulheres; quando não levam, eles mesmos fazem a revista. As pessoas ficam humilhadas, ultrajadas, envergonhadas. Perdem tudo”, falou o motorista.

POLÍCIA RODOVIÁRIA

Desconfiada, a testemunha diz não entender por que a Polícia Rodoviária Federal não toma nenhuma providência para coibir esses crime. “Bastava uma escolta e esses assaltos iriam diminuir. Muitas vezes os ataques acontecem inclusive quando o ônibus está passando pela barreira, porém, nada é feito”, disse.
Segundo disse o motorista, os ônibus são levados sempre para o mesmo ramal. Os bandidos obrigam o motorista a seguir estrada onde não é possível fazer a curva. Depois que eles fogem, fica muito difícil. O condutor tem de sair de ré, isso, se os bandidos não furam os pneus do veículo a bala. “Eles não querem apenas roubar. Eles são perversos, querem fazer as pessoas ficarem em pânico, sofrerem, sentir dor”, disse. E acrescentou que, no bando, tem sempre um mais alterado, que é para dar voz de comando, impondo o medo.
Depois dos assaltos, mais refeitos, motorista e passageiros seguem o destino para registrar o Boletim de Ocorrência na delegacia mais próxima. Segundo ele, não adianta registrar em Goianésia, Tailândia ou Jacundá. Se o assalto ocorre quando o veículo está vindo para Belém, em geral, a queixa na Polícia é registrada na Seccional de Marituba. Se ocorre na viagem de ida, o registro é feito na Superintendência Regional de Polícia Civil do Sul e Sudeste do Pará, em Marabá. Contudo, é apenas para que todos, principalmente o motorista, fique legalmente respaldado, pois, ao que a testemunha sabe, até o momento, são poucos os bandidos identificados e presos.

Quadrilha seria formada por jovens ricos

Uma denúncia feita à Divisão de Investigações e Operações Especiais, da Polícia Civil, dá conta que, entre as quadrilhas que andam praticando assaltos na região sudeste do Estado, mais precisamente, na Rodovia PA-150, há uma integrada por jovens filhos de famílias abastadas residentes no município de Jacundá. São pessoas violentas que vivem observando os movimentos inclusive nos postos de vendas de passagens.
Conforme o delegado Neyvaldo Silva, diretor da DIOE, apurou, há funcionários ameaçados de morte em Jacundá. A Polícia daquela cidade, inclusive, já teria pegado alguns desses bandidos, mas, por serem filhos de gente de influência e dinheiro, acabaram sendo liberados pela Justiça sem grande demora.
Na Superintendência Regional de Polícia Civil do sul e sudeste do Pará, as autoridades ficaram sabendo que funcionários teriam sido pressionados. Caso algum membro da quadrilha venha a cair nas garras da Polícia novamente, seriam esses funcionários quem iriam pagar pato morrendo. Por causa disso, todo mundo cala, afinal, são bandidos ligados a pessoas poderosas, com poder de fogo.
De acordo com o delegado Neyvaldo Silva, há vários inquéritos transcorrendo nas seccionais urbanas da Grande Belém e sudeste do Pará. Por enquanto, não há necessidade de avocar essas peças informativas para a DIOE, porém, é intenção do policial fazer um trabalho investigativo paralelo no sentido de prevenir tais crimes, identificar os envolvidos e mandá-los todos para a cadeia. Inclusive, Neyvaldo diz que já vinha fazendo, desde o ano passado, quando era diretor de Polícia Especializada, o monitoramento dessas quadrilhas. “Já temos elementos muito fortes, muito próximos. A gente quer pegar no flagrante e, de uma forma ou de outra, não demora muito e a gente consegue”, disse confiante.

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