Ciclistas clamam por segurança nas ruas de Belém

ROBERTA VILANOVA
Especial para o Bip-News

Grupo Azulino Bicolor, que sai da Praça Batista Campos todas as quartas-feiras
Apesar de não terem acesso aos dados oficiais dos órgãos de Segurança Pública, os ciclistas acreditam que houve aumento considerável no número de roubos e furtos de bicicletas em Belém nas duas últimas semanas, sendo que sete casos ocorreram no fim de semana do Círio.
No dia 6 de outubro, quinta-feira, Ramon Vasconcelos teve sua bicicleta de R$ 4 mil furtada de dentro da sua casa, no bairro do Telégrafo. Como não houve arrombamento, ele suspeita de alguém conhecido e espera identificá-lo com as imagens das câmeras de segurança dos vizinhos. A bicicleta só tinha cinco meses de uso e, apesar de valor elevado, não tinha seguro.
Na sexta-feira,7, os ciclistas Sérgio Garcia e Naldo Paixão tiveram suas bicicletas roubadas na BR-316. E no dia 8, às 4h da manhã, na Rodovia Augusto Montenegro, a vítima foi a ciclista Érica Vanessa. Ela e mais duas amigas seguiam para participar da romaria quando foram abordadas por três assaltantes armadoscom revólver, que levaram duas bicicletas, já que uma das amigas conseguiu evitar o roubo.
Outra vítima no dia 8, foi Luiz Felipe França, que teve sua bicicleta furtada de dentro da sua casa no bairro de Nazaré, por volta das 9h da manhã. O furto foi gravado por uma câmera, mas o ladrão conseguiu fugir tranquilamente. “Infelizmente é a nossa realidade. Só Nossa Senhora para nos proteger”, desabafou a vítima numa rede social.
Ainda no dia 8, às 10h, o ciclistaJorge Antônio Araújo, um dos guias do grupo Pedal & Saúde, testemunhou um assalto na Praça Batista Campos. Ele acionou a polícia e ajudou a prender o assaltante. A bicicleta foi recuperada, porém o dono não quis registrar o boletim de ocorrência (BO). “O sargento me falou que se fosse feito o BO, o ladrão assinaria um termo e seria liberado no mesmo dia. Hoje é essa a realidade de nossa cidade. Cabe a cada um de nós ficar mais atento e andar sempre em grupo, principalmente, nas áreas vermelhas”, disse Jorge.
O caso mais grave aconteceu no dia 1º de outubro, com Marcelo Alves, guia do grupo Azulino Bicolor. Ele tinha acabado de sair de casa, por volta das 6h30 da manhã, no bairro do Jurunas, quando foi surpreendido por dois assaltantes armados com uma faca. Ele foi empurrado e fraturou o braço na queda. “Enquanto um tentava puxar minha mochila de hidratação, o outro tentava me esfaquear, só que a vizinhança viu, gritou e eles saíram correndo com a minha bicicleta”, contou o guia.
Marcelo pratica ciclismo há quase cinco anos e criou o grupo Azulino Bicolor há pouco mais de dois anos, numa época em estava havendo muita briga de torcida. “Queria mostrar que a gente poderia conviver pacificamente, tanto a torcida do Remo, quanto a do Paysandu, aí eu tive essa ideia de criar o Pedal Azulino Bicolor”. Porém, para praticar esse esporte e levar uma vida mais saudável, é preciso estar muito atento por onde passa.
O Grupo Pedal & Saúde sai do CAN todos os sábados
Para a ciclista Denise Amanajás, que coordena o grupo Pedal & Saúde, “o pior dos roubos de bike é quando machucam o ciclista, como aconteceu com o Marcelo. Solução não vejo a curto prazo. O ideal seria que todas as crianças e adolescentes tivessem assegurado seu direito de moradia, alimentação, educação etc. Se todos tivessem direito ao mínimo para ter uma vida digna não precisariam roubar”, declarou. Ela e os guias do grupo, também tomam diversas medidas de segurança antes, durante e depois dos pedais, como buscar rotas onde haja ciclovias ou ciclofaixas, orientar os ciclistas a se manterem juntos, para evitar que alguém fique para trás, e usar rádios para comunicação entre os guias.

SEGURO É RECOMENDADO PARA BICICLETAS MAIS CARAS

José Lucas Neto, corretor de seguros para bicicletas
Devido à falta de segurança, proprietários de bicicletas mais caras podem fazer seguro, mas muitas pessoas ainda desconhecem que existe esse tipo de seguro no mercado.
O ciclista Mauro Amaral tomou conhecimento por meio de pesquisa na internet e resolveu fazer um para sua bicicleta que custa mais três mil reais. “Eu decidi fazer o seguro pela quantidade de roubos de bicicletas que acontecem todos os dias na cidade de Belém e região metropolitana”, informou.
Mauro também defende que haja mais policiais e segurança em geral nas ruas, assim como ciclovias com boa sinalização e uma lei que proteja o ciclista. “Mas eu aconselho a quem puder que faça o seguro, porque é uma forma de proteção do patrimônio que existe no momento”, ressaltou o estudante.
José Lucas Neto, que é corretor de seguro pleno da MaisBrasil Corretora de Seguros, deu explicações detalhadas sobre o assunto.Ele disse que seguro de bicicleta existe há muito tempo, porém era mais voltado para bicicletas de atletas de ponta e competições internacionais já que existia o risco. “Não temos dados do primeiro seguro de bicicleta feito no mundo, mas deve ter sido por volta dos anos 1980, quando cresceu o valor desses equipamentos e difundiu-se as voltas como a da França”.
Só é feito seguro de bicicletas com valor acima de R$ 3 mil e o proprietário tem que descrever minuciosamente o item a ser segurado. “Tem que informar endereço de guarda do bem e seu tipo de uso: se para trilha, on road ou off road, misto, ou apenas pistas indoor, além dos dados pessoais do proprietário e proponente do seguro”, explicou o corretor. O valor do seguro também varia de acordo com o bairro do contratante tal qual o seguro de veículos. “Inclusive, bairros nobres, pela incidência de roubo, têm taxas maiores que outros da periferia e 90% dos seguros são feitos em bairros de classe alta”, observou.
Esse tipo de seguro cobre roubo enquanto pedala, roubo durante o transporte e roubo dentro da residência, além de danos causados às bicicletas durante o transporte que foi a origem do seguro nos anos de 1980. “Assim que houver o sinistro, deve ser feita ocorrência policial, apresentada nota fiscal em caso de roubo ou orçamento em caso de danos. Se forem danos, a seguradora autoriza uma oficina para consertar e se for perda total com até 30 dias cai o valor na conta do cliente. Normalmente existe uma franquia mínima de R$ 1 mil e pode chegar até 20% do valor”, detalhou Lucas.
Segundo o corretor, no Pará, esse mercado ainda está começando a ser desbravado, “porque a cultura do paraense é querer sempre valores muito pequenos para contratar ou não achar que deve fazer seguro pois "nunca vai acontecer", mas já existem muitos bikers que fazem regularmente o seguro que vale por um ano”.
“Recomendo que seja feito seguro de bike acima de R$ 5 mil, pois a relação vale mais a pena. E como em Belém há bicicletas com valor de R$ 30 mil, elas, obviamente, devem ser seguradas”, finalizou Lucas, que tem oito bikes seguradas e ainda não pagou nenhum sinistro.

CICLOATIVISTAS DIALOGAM COM O PODER PÚBLICO

Líderes ciclistas reunidos com as autoridades policiais
O Ciclomobilidade Pará surgiu da necessidade de reativar o movimento cicloativista em Belém, que havia sido criado com o Fórum Social Mundial, em 2009. Com nova identidade e motivado por um desentendimento entre ciclista e motorista numa ciclofaixa, o movimento luta para que a capital paraense seja uma cidade ciclável, onde todos, pedestres,ciclistas e motoristas possam viver de forma harmoniosa e com melhor qualidade de vida.
O papel do Coletivo é dialogar com o poder público para conseguir melhorias nas malhas viárias e reduzir os riscos de acidentes e também da violência a que os ciclistas estão sujeitos devido à falta de sinalização, iluminação e policiamento, por exemplo.Além disso, há vários cicloativistas buscando sensibilizar e conscientizar as pessoas para a causa da coletividade. “O problema é que não se sabe o quantitativo de ciclistas que existem na cidade e nem o perfil deles, informações fundamentais para a adoção de medidas mais adequadas”, explicou Thiago Sabino, um dos integrantes do movimento.
Sabino disse que para garantir o atendimento das demandas, o coletivo passou a protocolar seus ofícios o que não era feito anteriormente, conseguindo melhores respostas agora, uma vez que antes tudo era feito de forma verbal e se perdia com o tempo. “Quando começamos a protocolar ganhamos celeridade”, ressaltou.
No que tange ao roubo de bicicletas, uma dificuldade, conforme Sabino, é que “a bicicleta não é vista como veículo e sim como objeto no ato da realização de um Boletim de Ocorrência”, tanto que não tem placa de identificação como os carros e motocicletas. Por isso, o coletivo sugere o uso do aplicativo Bike Registrada, para ajudar na identificação da bicicleta roubada. O aplicativo é gratuito e acessível a todos os ciclistas. Basta acessar o site www.bikeregistrada.com.br. Para fazer o registro, deve ser utilizado o número de série que normalmente está localizado no movimento central (local de fixação do pedivela). Como complemento pode ser adquirido o selo do Bike Registrada, que contém um QR Code que facilita a identificação, mas não é obrigatório e muitos alegam que é facilmente removido pelo ladrão, mas isso não impede que ela seja identificada.
Outro aplicativo sugerido por Sabino é o Pedal Alerta, criado pelo professor Acilon Baptista, que é tem a finalidade de mapear a ciclomobilidade, mostrando tanto os lugares perigosos para os ciclistas quanto os legais para pedalar. Todo ciclista que sofrer assalto ou acidente pode fazer seu registro www.pedalalerta.org, marcando sempre local, dia e horário, ajudando a construir uma cartografia colaborativa da cidade, que possa ser utilizada nas demandas demais policiamento junto às autoridades e também na autoproteção dos ciclistas.
Para tentar reduzir o número de assaltos a ciclistas em Belém, o Coletivo Ciclomobilidade e líderes de diversos grupos de bike reuniram-se, no dia 28 de abril, com o chefe do Departamento Geral de Operações, coronel PM Sérgio Alonso; e com os comandantes do 1º e 2º batalhão da PM, tenente coronel Marcelo Ronald e Marco Cidon respecivamente, além de um representante da Diprev/Sago, da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (Segup).
Segundo o ciclista e membro do Ciclomobiidade, José Francisco Ramos, a Polícia Militar prometeu reforçar a segurança, nos horários noturnos e pela manhã cedo nas avenidas Duque de Caxias, Almirante Barroso, João Paulo II e Tamandaré, assim como no Portal da Amazônia, ainda que nesse local já houvesse policiamento. Ficou acertado, ainda, que os ciclistas deveriam comunicar situações de risco aos oficiais do dia ou interativos e que a PM também ampliaria a fiscalização da propriedade de bikes em feiras livres e em lojas pequenas irregulares. Para esse trabalho receberia informação dos ciclistas sobre pontos prováveis de comercialização de bicicletas roubadas e adotaria o aplicativo Bike Registrada tanto nessa ação como nas abordagens de rua. Como resultado imediato da reunião, no dia 4 de maio, houve treinamento dos policiais de operações de rua para o uso do aplicativo. Cinco meses após a primeira reunião, os ciclistas aguardam encontro para avaliação dos resultados.
Importante informar que a bicicleta do Marcelo Alves foi recuperada por policiais do 20º BPM (Batalhão Comunitário) sob comando do Major Siqueira, nesta quarta-feira (12), tendo sido identificada porque tinha registro no Bike Registrada, apesar de ter sido adulterada com pintura nova e colagem de um adesivo de outra marca.

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