Direção do carro era a arma do assassino
Homem bêbado, sem habilitação, dirigindo com as luzes apagadas e na contramão mata João Paulo na avenida de mesmo nome, no Souza, em Belém
O pequeno João Paulo nasceu de uma família cheia de problemas de saúde e financeiros. Mas levava uma vida digna, como toda criança pobrezinha que tem sonhos e o que é mais importante, a saúde, o sorriso e toda uma vida de criança que alegrava a toda a comunidade do Presépio, atrás do campo da Tuna Luso Brasileira. Filho de Josiane Pompeu Rodrigues e de Jesus de Nazaré, o pequeno João Paulo haveria de ser morto por um vizinho, identificado apenas como José Augusto, morador da Alameda Professora Ana Walmont, também atrás da Tuna e que dirigia o automóvel japonês Corolla placas JWD – 7771. Foi um crime, porém, a lei que temos no Brasil não pensa desse jeito. No mínimo, o bandido vai responder por homicídio culposo.
João Paulo, cujo nome é uma homenagem ao saudoso e bem-aventurado Papa João Paulo II, morava na Avenida João Paulo II com os pais e tios, pois estudava na escola que fica ali perto. Na noite de sábado, o menino jogava bola com sua prima Paula, também criança, e a bola foi chutada para o meio da rua. Ele olhou para o fluxo, estava limpo. Dava pra pegar o brinquedo e o menino correu, ocasião em que foi colhido com violência e jogado à distância pelo Corolla, cujo motorista, um assassino, fugiu sem prestar socorro à vítima e ainda foi beber num bar no bairro do Una.
Segundo familiares de João Paulo contaram ao JORNAL POPULAR na terça-feira passada, José Augusto telefonou para sua mulher, que é constantemente agredida por ele, e contou que havia atropelado um garoto; que era pra ela ver se a vítima ainda estava viva ou morta. Um deboche, acreditam familiares do menino.
José Augusto foi preso por uma equipe da Polícia, bebendo, no Una, e apresentado na Seccional Urbana de São Braz, onde a autoridade policial, para mantê-lo preso, arbitrou fiança da ordem de doze salários mínimos que, não se sabe por que cargas d’água, ele conseguiu em espécie e foi liberado antes de amanhecer o domingo, pois foi visto nesse mesmo dia de manhã, pronto para ir ao supermercado com a família, mulher e filhos, como se houvesse morto um cachorro que ficou abandonado à própria sorte no meio da rua.
Será que só existem Direitos Humanos para bandidos? Onde ficam os Direitos Humanos para o pequeno João Paulo e sua família? E a dor que o garoto sentiu ao ser atropelado daquela forma, jogado a dois metros?
De acordo com Josiane, a mãe de João Paulo, já gravemente ferido, ele ainda teve forças para se mexer um pouco no asfalto, depois, desfaleceu para sempre. Ainda foi levado para o hospital, mas só funcionava o corpo do pescoço pra baixo. No Hospital Metropolitano disseram logo que ele estava desenganado, que estava com morte cerebral. Mesmo assim, ele ficou internado. Se resistisse, seria submetido a uma operação para ver o que aconteceria. João Paulo sofreu três paradas cardíacas até morrer, às 13 horas de domingo, para desespero geral da família e de vizinhos que acompanharam toda a situação e acompanhavam a vida de João Paulo desde seu nascimento, havia onze anos.
Criminoso poderia continuar preso pelo que fez
De acordo com o que preceitua o Código Nacional de Trânsito, José Augusto poderia realmente ter permanecido preso, mas tudo depende do entendimento da autoridade policial que efetua o inquérito de flagrante delito. O motorista que atropelou, e matou, João Paulo, foi liberado sob pagamento de fiança por ter cometido, ridículo, um “crime de homicídio culposo, sem a intenção de matar”. Como sem a intenção de matar, se dirigia pela contramão, em alta velocidade, bêbado e sem habilitação? Qual o entendimento que vai ter acerca do caso o representante do Ministério Público ao examinar os autos do inquérito transformado em processo?
A morte de João Paulo não pode entrar no mapa estatístico dos acidentes de trânsito puro e simples. Não! Houve um assassinato sim e o criminoso precisa ser preso, julgado e condenado na forma da lei para que este país volte a ter uma Justiça de credibilidade, do contrário, será mais um caso impune. Como disse o tio de João Paulo, Tede Pompeu Rodrigues, “nós queremos Justiça; de alguma forma esse criminoso precisa pagar pelo que fez, pois não matou um cachorro. Ele assassinou uma criança que brincava em sua inocência na calçada de sua casa e que tinha noção de perigo ao passar para a rua olhando para o fluxo e não para a contramão, por onde não haveria de aparecer um carro para arrancar sua vida de forma tão violenta.
No dia do enterro do menino, na segunda-feira passada, familiares e amigos levaram o caixão com o corpo pelas ruas das comunidades Nossa Senhora de Nazaré e do Presépio, onde ele nasceu e viria a morrer. O carro fúnebre parou onde ele nasceu e se criou. O caixão foi retirado e levado pela multidão até o ponto do atropelamento, onde a Avenida João Paulo II foi fechada momentaneamente em protesto pelo ocorrido e para que o povo manifestasse sua revolta e exigisse atenção das autoridades para que o caso não fique impune.
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