Direção do carro era a arma do assassino

Homem bêbado, sem habilitação, dirigindo com as luzes apagadas e na contramão mata João Paulo na avenida de mesmo nome, no Souza, em Belém

No dia de hoje, caso um assassino não lhe tivesse atropelado a vida de forma fria e covarde, o pequeno João Paulo Pompeu Rodrigues, de 11 anos, vestiria, pela primeira vez, calça, camisa e sapatos sociais, além de gravata. Ele estava empolgado e havia pedido essa roupa ao pai, Jesus de Nazaré, pois iria colar grau de sua 5ª Série no Preventório Santa Terezinha, a escola católica das crianças do bairro do Souza, situada na Avenida Almirante Barroso. Tudo não passou de um sonho que jamais será transformado em realidade, pois, João Paulo, jaz numa sepultura de anjo no distante cemitério do Tapanã, na periferia de Belém. Lamentável!
O pequeno João Paulo nasceu de uma família cheia de problemas de saúde e financeiros. Mas levava uma vida digna, como toda criança pobrezinha que tem sonhos e o que é mais importante, a saúde, o sorriso e toda uma vida de criança que alegrava a toda a comunidade do Presépio, atrás do campo da Tuna Luso Brasileira. Filho de Josiane Pompeu Rodrigues e de Jesus de Nazaré, o pequeno João Paulo haveria de ser morto por um vizinho, identificado apenas como José Augusto, morador da Alameda Professora Ana Walmont, também atrás da Tuna e que dirigia o automóvel japonês Corolla placas JWD – 7771. Foi um crime, porém, a lei que temos no Brasil não pensa desse jeito. No mínimo, o bandido vai responder por homicídio culposo.
Vejam bem: José Augusto dirigia embriagado o carro pela contramão da Avenida João Paulo II, no trecho compreendido entre o Batalhão de Polícia Ambiental e a Alameda Eliezer Levy, no bairro do Souza. Além de bêbado e na contramão, o veículo estava com os faróis apagados, em zigue-zague e o condutor não tem carteira de habilitação. O veículo pertence a uma locadora. Merece sim – e por que não? – responder por homicídio doloso, no mínimo, privilegiado, já que conduzindo um veículo de forma irresponsável, deveria imaginar os riscos que corria de provocar um grave acidente como acabou por fazer ao atropelar o menino.
João Paulo, cujo nome é uma homenagem ao saudoso e bem-aventurado Papa João Paulo II, morava na Avenida João Paulo II com os pais e tios, pois estudava na escola que fica ali perto. Na noite de sábado, o menino jogava bola com sua prima Paula, também criança, e a bola foi chutada para o meio da rua. Ele olhou para o fluxo, estava limpo. Dava pra pegar o brinquedo e o menino correu, ocasião em que foi colhido com violência e jogado à distância pelo Corolla, cujo motorista, um assassino, fugiu sem prestar socorro à vítima e ainda foi beber num bar no bairro do Una.
Segundo familiares de João Paulo contaram ao JORNAL POPULAR na terça-feira passada, José Augusto telefonou para sua mulher, que é constantemente agredida por ele, e contou que havia atropelado um garoto; que era pra ela ver se a vítima ainda estava viva ou morta. Um deboche, acreditam familiares do menino.
José Augusto foi preso por uma equipe da Polícia, bebendo, no Una, e apresentado na Seccional Urbana de São Braz, onde a autoridade policial, para mantê-lo preso, arbitrou fiança da ordem de doze salários mínimos que, não se sabe por que cargas d’água, ele conseguiu em espécie e foi liberado antes de amanhecer o domingo, pois foi visto nesse mesmo dia de manhã, pronto para ir ao supermercado com a família, mulher e filhos, como se houvesse morto um cachorro que ficou abandonado à própria sorte no meio da rua.
Será que só existem Direitos Humanos para bandidos? Onde ficam os Direitos Humanos para o pequeno João Paulo e sua família? E a dor que o garoto sentiu ao ser atropelado daquela forma, jogado a dois metros?
De acordo com Josiane, a mãe de João Paulo, já gravemente ferido, ele ainda teve forças para se mexer um pouco no asfalto, depois, desfaleceu para sempre. Ainda foi levado para o hospital, mas só funcionava o corpo do pescoço pra baixo. No Hospital Metropolitano disseram logo que ele estava desenganado, que estava com morte cerebral. Mesmo assim, ele ficou internado. Se resistisse, seria submetido a uma operação para ver o que aconteceria. João Paulo sofreu três paradas cardíacas até morrer, às 13 horas de domingo, para desespero geral da família e de vizinhos que acompanharam toda a situação e acompanhavam a vida de João Paulo desde seu nascimento, havia onze anos.

Criminoso poderia continuar preso pelo que fez

De acordo com o que preceitua o Código Nacional de Trânsito, José Augusto poderia realmente ter permanecido preso, mas tudo depende do entendimento da autoridade policial que efetua o inquérito de flagrante delito. O motorista que atropelou, e matou, João Paulo, foi liberado sob pagamento de fiança por ter cometido, ridículo, um “crime de homicídio culposo, sem a intenção de matar”. Como sem a intenção de matar, se dirigia pela contramão, em alta velocidade, bêbado e sem habilitação? Qual o entendimento que vai ter acerca do caso o representante do Ministério Público ao examinar os autos do inquérito transformado em processo?
A morte de João Paulo não pode entrar no mapa estatístico dos acidentes de trânsito puro e simples. Não! Houve um assassinato sim e o criminoso precisa ser preso, julgado e condenado na forma da lei para que este país volte a ter uma Justiça de credibilidade, do contrário, será mais um caso impune. Como disse o tio de João Paulo, Tede Pompeu Rodrigues, “nós queremos Justiça; de alguma forma esse criminoso precisa pagar pelo que fez, pois não matou um cachorro. Ele assassinou uma criança que brincava em sua inocência na calçada de sua casa e que tinha noção de perigo ao passar para a rua olhando para o fluxo e não para a contramão, por onde não haveria de aparecer um carro para arrancar sua vida de forma tão violenta.
No dia do enterro do menino, na segunda-feira passada, familiares e amigos levaram o caixão com o corpo pelas ruas das comunidades Nossa Senhora de Nazaré e do Presépio, onde ele nasceu e viria a morrer. O carro fúnebre parou onde ele nasceu e se criou. O caixão foi retirado e levado pela multidão até o ponto do atropelamento, onde a Avenida João Paulo II foi fechada momentaneamente em protesto pelo ocorrido e para que o povo manifestasse sua revolta e exigisse atenção das autoridades para que o caso não fique impune.

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