Operação ambiental deixa Tailândia sob fogo cruzado

Texto: Roberto Barbosa
Reportagem: Reginaldo Ramos,
De Tailândia/PA

O dia de ontem foi de incertezas no município de Tailândia, distante 220 quilômetros de Belém pela Alça Viária, depois da operação desencadeada na sede do município pela Polícia Federal, Polícia Militar e agentes do Instituto Brasileiro dos Recursos Naturais e Renováveis-Ibama, que levou à apreensão de cerca de quinze mil metros cúbicos de madeira em serrarias da cidade, além da desativação de 190 fornos de carvão, ocorrida na Vicinal 13 do Km 30 da Rodovia PA-150, onde vivem pelo menos duzentas famílias. O prefeito de Tailândia, Paulo Jasper, mais conhecido por “Macarrão”, diz não ser contra a operação que visa o combate ao desmatamento ilegal da Floresta Amazônica, mas pondera que o Governo Federal deve traçar metas que viabilizem a sobrevivência dos trabalhadores que dependem da extração madeireira ou da produção carvoeira no município que já sentia, desde a última sexta-feira, desaceleração no comércio, dado que as verbas que circulam na cidade dependem quase que exclusivamente do extrativismo madeireiro.
Segundo o analista do Ibama, Francisco de Souza Neves, que está à frente dos trabalhos em Tailândia, “pode-se dizer que esta apreensão seria como que uma espécie de ponta-pé inicial da operação Guardiões da Amazônia que deverá atingir toda a região”. Na próxima quinta-feira, os ministros do Meio Ambiente, Marina Silva, e da Justiça, Tarso Genro, estarão em Belém para formalizarem o início da “Operação Arco de Fogo”, que receberá recursos da ordem de R$ 200 milhões para mobilizar homens e equipamentos das polícias Federal, Militar, Ibama, além do Exército e Aeronáutica em pontos estratégicos da Floresta Amazônica onde há focos de desmatamento.
No caso de Tailândia, onde ocorreu a mais recente apreensão, está previsto para hoje o início do transporte das madeiras apreendidas e que dariam para lotar cerca de quinhentas carretas. Como é grande o volume do material apreendido, o transporte será feito em duas grandes balsas que navegarão pelo rio Moju em direção a Belém e município de Marituba, respectivamente, onde fica o depósito da Secretaria Estadual de Meio Ambiente-Sema.
Madeireiros locais tentavam, a todo custo, impedir o envio da madeira apreendida para Belém. No entanto, um dos focos principais da operação que combate o desmatamento na Amazônia, é dar prejuízos aos madeireiros que cortam ilegalmente plantas nativas da Amazônia, a fim de que a atividade irregular seja inviabilizada, inclusive com a apreensão de máquinas e caminhões.
Outro objetivo dos agentes envolvidos na operação será a prisão em flagrante dos envolvidos, que, além de de serem enquadrados na forma da lei, ainda pagarão multas pesadas por cada árvore cortada sem a prévia autorização do órgão ambiental, no caso, o Ibama.
De acordo com dados ontem em Tailândia, a operação não tem data para terminar. Adelson Tavares de Lima, 36 anos, cinco filhos, mora na Vicinal 13. Ele disse que além de os fornos terem sido destruídos, toda a produção foi apreendida causando-lhe enormes prejuízos, assim como para os demais produtores. Segundo ele, já tem famílias passando fome na localidade e a incerteza é total, posto que ninguém tem outra fonte de sobrevivência. Acrescentou, ainda, Adelson, que o material utilizado para a fabricação de carvão provinha dos pastos das fazendas da região e que não tem nada a ver com desmatamento irregular.


Madeira leva município ao crescimento

De acordo com o prefeito Paulo Jasper, recentemente, a imprensa divulgou dados dando conta que Tailândia é um dos municípios mais violentos do Brasil, inclusive, sendo o primeiro no Estado, no ranking da violência. Entretanto, ele afirma que esses dados são relativos ao ano de 2006 e que atualmente a situação é completamente avessa ao que foi divulgado.
“Macarrão” afirmou que nos últimos anos Tailândia, que tem uma população acima de 50 mil habitantes, cresceu bastante em todos os setores, tanto assim que vem gerando emprego e renda e atraindo pessoas de municípios vizinhos, assim como de outras partes do Brasil. A situação de violência que antes existia mudou bastante, resumindo-se, segundo ele, a crimes comuns verificados em todas as partes do país.

Ouvido pela reportagem, o presidente do Sindicato da Indústria Madeireira de Tailândia, João Medeiros, salientou tratar-se de uma situação difícil. Ele diz que sua entidade sindical não é contra o combate ao desmatamento, mas diz que os métodos utilizados podem levar o município ao colapso econômico. Acha que os critérios adotados podem ser discutidos de forma a que ninguém saia prejudicado.
Lembra que o Governo Federal está procurando mostrar para o restante do país que é implacável no que diz respeito ao combate ao desmatamento, mas que na Amazônia vivem cerca de 20 milhões de brasileiros que precisam sobreviver e que, se a região tem a população tão grande que tem hoje, é em função também do que fez o mesmo Governo, quando quis povoar o Norte do Brasil, na era militar.
Esse povoamento ocorreu de forma desordenada, mas esse povo vive, ou bem ou mal nesta região e dela precisa tirar seu sustento, disse João Medeiros. Acrescentou ainda o sindicalista, que entre os problemas enfrentados pela população estão os conflitos agrários e, agora, mais recente, a questão ambiental. Para ele, o governo tem sido incompetente no sentido de criar políticas públicas para geração de emprego e renda que minimizem os problemas ora verificados, como acontece em Tailândia, seguramente, um dos maiores produtores madeireiros do Estado do Pará.
João Medeiros destaca, por outro lado, que empresas e pessoas físicas, além de assentamentos devidamente legalizados, fazem a extração de madeira da floresta de forma irregular por não conseguirem vencer as barreiras da burocracia para trabalharem de forma legal. (Texto: Roberto Barbosa, DRT-PA 1099)

Comentários

Roberto, se eu não me engano, você foi quem deu o furo da siatuação em Tailândia na blogosfera.

É isso aí rapaz.

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