MORTE RONDA OS RIOS DA AMAZÔNIA

Foto: Jorge Nascimento
O perigo sempre esteve ao lado de quem necessita utilizar o transporte fluvial na Amazônia, sobretudo agora, com os ataques de piratas e ratos d'água


Não obstante os esforços concentrados das polícias Civil, Militar e Capitania dos Portos do Pará, ratos d’água e piratas atacam embarcações e fogem impunes

ROBERTO BARBOSA
com Sistema de Notícias
especial para o Bip-News e Folha do Povo

Em função da abundância de rios, a Amazônia tem nas embarcações seu maior meio de transporte, o que trouxe para a região nos últimos séculos, riquezas, populações e formação de povoados que se transformaram em prósperas cidades. Com a chegada do progresso, também vem as coisas desagradáveis, como a violência, falta de empreendimentos nos setores de saúde, educação, lazer, etc. A violência, entretanto, domina hoje os rios da região, causando prejuízos enormes à navegação fluvial.
Por conta dos atos de pirataria que já se registraram nos rios da região, assim como em alto-mar, sobretudo no Nordeste do Pará, à altura do município de Vigia de Nazaré, já ocorreram cenas de barbaridades, com tripulantes de embarcações executados e os sobreviventes abandonados à própria sorte, já que em geral, os assaltantes levam o revés das embarcações, que as impede de prosseguirem viagem, ficando à deriva.
Um dos casos mais famosos ocorreu com um barco pertencente à família Quaresma, de Barcarena, que trazia do Suriname, cigarro para ser comercializado em cidades diversas do Estado do Pará, inclusive na capital, Belém, fato que acabou gerando problemas para policiais civis acusados de envolvimento com a quadrilha que matou o comandante da embarcação, feriu outros tripulantes e deixou a todos abandonados em alto-mar. Um policial chegou responder a inquérito, acusado do crime de latrocínio, o que não resultou em nada devido falta de provas. De acordo com barqueiros que navegam há anos pelos rios da Amazônia, o caso que vitimou os irmãos Quaresma, no que pese a confusão que gerou para os criminosos, não inibiu a prática de pirataria, que ocorre todos os dias, todas as horas e com ação de quadrilhas diversas por todo o Estado do Pará.
Segundo o delegado Sérvulo Cabral, diretor da Divisão de Repressão e Combate a Crimes Organizados (DRCO), existem inúmeras comunicações de ataques de piratas, assim como ratos d’água inclusive na orla fluvial de Belém, todavia, o Estado do Pará é maior que vários países europeus juntos e não tem contingente policial suficiente para o policiamento constante e preventivo em todas as partes, facilitando, dessa forma, a ação dos bandidos.
Cabral afirma que, para cada comunicação, é aberto um inquérito e feitas investigações, daí porque, segundo disse, já foram postos na cadeia, dezenas de vagabundos, todos devidamente reconhecidos, fichados e recolhidos à disposição da Justiça. Entre esses presos, afirmou o delegado, estão latrocidas que deixaram famílias órfãs, isto é, depois de terem morto homens que tiravam do transporte fluvial de carga ou passageiros, seus sustentos.


Ocorreu a inversão de perigos fluviais

Experientes policiais civis e militares, e até militares da Capitania dos Portos, são unânimes em afirmar que a morte sempre rondou os rios da Amazônia. Antigamente, o maior problema, citaram, eram os naufrágios ocorridos principalmente pela imperícia de comandantes de embarcações e dos abusos na superlotação de cargas e passageiros, motivando centenas de mortes, a exemplo do que ocorreu em 1981, quando naufragou no Marajó o barco mercante “Novo Amapá”, que vitimou mais de trezentas pessoas, a maioria das quais teve seus corpos sepultados em um cemitério público da região, face ao adiantado estado de putrefação em que foram resgatados até oito dias depois do sinistro.
Aquele acidente foi provocado, segundo julgou o Tribunal Federal Marítimo do Rio de Janeiro, pela superlotação. A embarcação transportava cerca de 600 pessoas, número de passageiros este que seria para um pequeno navio e não para um barco mercante comum, mesmo grande como era o caso do “Novo Amapá”.
Outro acidente grave foi registrado, já em julho 1988, em frente a Belém, na Baía do Guajará, quando naufragou o barco mercante “Correio do Arari”, que levou para o fundo cerca de 50 almas.
Esses acidentes ocorriam devido a escassez de pessoal na Capitania dos Portos para a efetiva fiscalização das embarcações que deixam os portos oficiais – já que existem milhares de portos clandestinos, de onde singram embarcações que ainda escapam da fiscalização, pondo em risco, ainda hoje, milhares de vidas que viajam mesmo sabendo dos perigos de naufrágio de barcos superlotados.
Todavia, hoje, admitem essas autoridades, além dos perigos com a superlotação, e a imperícia de alguns comandantes de barcos que navegam por nossos rios, somos forçados a enfrentar, assim como quem está em terra, os perigos dos bandidos, - e os piratas usam lanchas potentes para abordar as embarcações e tomar a todos de assalto. O conselho das autoridades é para que as vítimas não resistam, mas, também, não deixem de denunciar os fatos para a Polícia, que, de sua parte, tem a missão de investigar os crimes e tentar dissolver essas quadrilhas.

A diferença de pirata e rato d’água

Quando chegam na delegacia para registrar a ação dos bandidos, as vítimas não sabem se foram roubadas por piratas ou ratos d’água. Para o delegado Sérvulo Cabral, não existe muita diferença entre um e outro bandido, afinal, ambos são assaltantes e, identificados, podem ser enquadrados por assalto à mão armada, artigo 157 do Código Penal Brasileiro, ou por latrocínio, isto é, matar para roubar, tido como crime hediondo e uma das modalidades mais praticadas no Brasil.
Entretanto, o rato d’água, em geral, é aquele bandido que se aproxima das embarcações fundeadas nos portos. Ele invade e furta o que quer, indo embora pelo mesmo ponto por onde chegou. O pirata, por sua vez, faz a abordagem das embarcações em trânsito e anuncia o assalto, em alguns casos, já atirando contra as vítimas.
Depois dos ataques, os piratas roubam o reversor dos barcos, peça fundamental para que continuem navegando, e fogem, deixando os sobreviventes à deriva, à espera que Deus os salve, ou os condene a parecerem de fome e sede.
É incrível, mas isso continua a ocorrer não apenas no Pará, mas em toda a Amazônia Legal, terra rica, mas cheia de nuances, um mundo a descobrir, a preservar e onde a segurança pública não passa do que se chama utopia.

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