Zé Mário e São José, em Marudá



ROBERTO BARBOSA

Foi mais ou menos no final da década de 1990 que eu e minha mulher Nazaré começamos a viajar bastante para a vila pesqueira e balneária de Marudá, distrito do município de Marapanim, distante cerca de 160 quilômetros de Belém, na região Nordeste do Estado, chamada, também, de Salgado Paraense. Ficávamos na casa de Dona Margarida Aragão, esposa do comandante Leonel Aragão, no bairro do Alegre, ao lado da Igreja de Nossa Senhora das Graças, erguida pela comunidade católica marudaense à época em que Monsenhor Edmundo Igreja era o Pároco de Marapanim e iniciava o Movimento Providentino, para animar as vocações para o sacerdócio.
Lembro da primeira vez que estive na casa citada. Encerrava o período de Santas Missões Populares. O pároco era o Padre João Ventura, hoje, emérito vigário diocesano em Icoaraci. Ele celebrou missa campal em frente à Igreja de Nossa Senhora das Graças, diante de uma multidão de fiéis. Nesse mesmo dia, à noite, iniciaria a festividade em honra à santa, sem sua presença, devido a idade avançada.
Na páscoa seguinte, lá estávamos novamente em casa de Dona Margarida. Domingo de Páscoa, apareceram, para tomar o café da manhã, o então seminarista e hoje pároco da Igreja de Santa Terezinha do Menino Jesus, no Tenoné, Padre Cristóvão Freitas – com quem Nazaré viajou para São Paulo, a quando da visita do Papa Bento XVI ao Brasi, e o missionário José Mário.
Foi até engraçado. É que, nesse dia, estávamos realizando uma brincadeira de páscoa. Escondemos, pelo enorme jardim, os ovos de páscoa. Cada um haveria de encontrar o seu. Então, todos estavam imbuídos na missão de encontrar o suculento chocolate em forma de ovo quando os visitantes chegaram. Nós os recebemos e eles ficaram olhando aquela marmota. Depois, foram embora. Foi aí que caiu a nossa máscara. “Meu Deus, os padres vieram tomar o café e nós não demos a mínima!” exclamou dona Margarida. Nazaré ficou atônita e, adivinhem: sobrou pra mim ir à igreja e recambiar os padres de volta. Que mico!
Eles, humildemente, voltaram e tomaram o café com tudo o que tinha direito, conversaram e aí tinha início uma sólida amizade.
O “Zé Mário” era quem animava a comunidade católica em Marudá. Padre Ventura costumava até brincar dizendo: “Eis o pároco de Marudá”. E era mesmo, não de fato, porque não era padre, mas, um missionário por excelência.
E é aqui que começa a história de Zé Mário e São José.
Ele nos dizia que o Padre Ventura vivia lhe pedindo para dar um jeito de arrumar uma imagem de São José e fazer a festa do Pai-Adotivo de Jesus Cristo no dia 19 de março, dia santo de guarda e de missa importante no calendário da Igreja Católica.
Não foi uma nem duas. Foram várias vezes que Zé Mário fez esse comentário. Nós, como católicos e querendo ajudar a Igreja, entendemos a mensagem, e prometemos, formalmente, fazer a doação da imagem de São José. Uma imagem de tamanho razoável, condigna com uma igreja do porte da de Nossa Senhora das Graças, em Marudá.
Com efeito, conseguimos a imagem, na loja ‘A Padroeira’, de Belém. Foi a imagem mais bonita que encontramos. Não era tão grande, mas, bem bonita, de feição bem angelical. No dia de São José, lá fomos eu e a Nazaré levando a imagem em nosso velho Gol preto. Lá chegando, mostramos a imagem a Zé Mário, que ficou todo feliz. Naquele dia, haveria missa às 17h. Como estávamos fazendo a doação, Zé Mário pediu-nos fizesse a ornamentação de um andor e que seria feita uma procissão com a imagem do Santo, da casa de Dona Margarida – que não estava presente nesse dia, - até à Igreja de Nossa Senhora das Graças.
A partir daquela data, até hoje, ocorrem, também em Marudá, as missas em honra a São José, em meio a grande festa e lembranças do saudoso Zé Mário, que já está lá em cima, orando por nós, e sua imagem está em local de destaque no altar-mor, como na maioria das igrejas do mundo.
Zé Mário partiu, mas realizou o desejo de botar na Igreja de Nossa Senhora das Graças, do povo e das praias de Marudá, a imagem de São José, esposo de Maria Santíssima.

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