Círio: a maior festa religiosa do Ocidente


Em seu episcopado na Arquidiocese de Santa Maria de Belém do Grão-Pará, o então arcebispo Dom Orani João Tempesta disse, com bastante propriedade, que a festa do Círio de Nazaré é, sem dúvida, a maior manifestação mariana e religiosa que se tem conhecimento em todo o Ocidente, pois reúne, em um só dia, mais de dois milhões de romeiros que circulam a pé pelas ruas do centro da capital paraense, desde a Catedral, no bairro da Cidade Velha, até o Conjunto Arquitetônico de Nazaré, em frente à Basílica Santuário, num percurso de cerca de quatro quilômetros.
Dom Orani Tempesta, atual arcebispo metropolitano da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, virá celebrar a missa de abertura do Círio 2009, na frente do Colégio Gentil Bittencourt, por ocasião da saída da imagem de Nossa Senhora de Nazaré, na berlinda e já com o manto deste ano, na procissão denominada trasladação, quando a santa é levada, de noite, para a Catedral, onde permanece em vigília de orações até o momento da saída do Círio.
O ex-arcebispo de Belém, na oportunidade, dera uma aula sobre os maiores santuários marianos do mundo, lembrando que os de Fátima, em Portugal, e de Aparecida, no interior paulista, recebem maior número de romeiros, porque tem programações de visitações para o ano inteiro, o que somente recentemente começou a ser feito na Basílica-Santuário de Nazaré, que se destaca por reunir mais de dois milhões de pessoas num só dia. Todavia, depois que Dom Orani outorgou o título vindo de Roma para Basílica Santuário, a matriz paroquial passou a permanecer aberta todos os dias do ano o dia inteiro, sem interrupção para almoço, inclusive com missas ao meio-dia diariamente.
Deste modo, não vai demorar muito, e a programação do Círio praticamente se estenderá por todo o ano. Já são comuns caravanas que chegam para as visitas ao templo onde está a imagem verdadeira de Nossa Senhora de Nazaré, encontrada por Plácido, porém, essas visitas se intensificam mais a partir da segunda quinzena de setembro e, em geral, se estendem até o final do ano.

O Círio, hoje, compõe onze romarias já tradicionais

No princípio do Círio de Nazaré havia, especificamente, duas romarias: a trasladação, quando a imagem é levada, na Berlinda, do Colégio Gentil Bittencour, até à Catedral Metropolitana de Belém, de onde sai a grande romaria do Círio, no domingo, e o Círio. A Trasladação já funciona como uma espécie de Círio Noturno, com velas e grande multidão, corda e tudo o mais.
Depois, foram introduzidas, na programação, a Romaria da Festa, que acontece no último dia da festividade, o Recírio, na segunda-feira depois da festa com a queima tradicional dos fogos de artifício em homenagem a Nossa Senhora de Nazaré, e a Romaria das Crianças, no segundo domingo da festa.
O Recírio é a última oportunidade de os fiéis verem, de perto, a imagem peregrina de Nossa Senhora. Em procissão, em um andor, Ela dá a volta pelo Conjunto Arquitetônico de Nazaré, onde é celebrada a missa às 6h30, e levada de volta ao Colégio Gentil Bittencourt. Antigamente, a santa ficava na capela do Gentil até o dia da próxima trasladação, o que não acontece mais, porque a mesma imagem é levada para uma série de eventos da Arquidiocese de Belém, é venerada também no interior da Basílica Santuário, durante grandes celebrações ou outros eventos. Assim, no Recírio, acontece a procissão mais como uma espécie de tradição.
São sinais dos tempos, diz o jornalista Eduardo Queiroz, especialista em Círio de Nazaré e que destaca o surgimento de outras romarias que foram introduzidas à programação do Círio, como a Cicloromaria, Motoromaria, traslado da imagem para Ananindeua, romaria rodo-fluvial, entre Ananindeua, Icoaraci, Baía do Guajará e Escadinha do Cais do Porto, no início da Avenida Presidente Vargas, a principal via do centro da capital paraense. Por fim, tem a Romaria da Juventude, que tem o objetivo precípuo de catequizar os jovens de hoje para o sentido de ser e fazer igreja.
Todas essas romarias são cercadas de muitas expectativas, porque passam por diversos pontos de Belém e Zona Metropolitana, proporcionando a que mais pessoas possam venerar a imagem de Nossa Senhora de Nazaré, que passa abençoando aos lares.

IMAGEM PEREGRINA
Ainda faz parte da programação, como lembra Eduardo Queiroz, as visitas com a imagem peregrina de Nossa Senhora de Nazaré a diversos órgãos, departamentos, empresas. “A festa do Círio de Nazaré é uma magia que acaba envolvendo inclusive pessoas de outros credos religiosos”, afirma ele, lembrando que atualmente, a maioria das empresas realiza seu círio, mesmo que não seja com a imagem que é levada na Berlinda. “Todos os padres da Arquidiocese de Belém e até do interior, acabam sendo procurados para as mais diversas celebrações, que acontecem até às vésperas do Círio”, finaliza.

Almoço do Círio: tradição, devoção e confraternização

Perguntar como começou a tradição do almoço do Círio é ouvir histórias mil. Cada paraense que vai ao Círio, ou que não vai mas se empolga todo só com a chegada desta quadra maravilhosa que seria como o “Natal dos paraenses”, tem a sua própria versão. Todavia, o almoço não começou com o primeiro Círio, nem a partir das visitações na ermida erguida por Plácido, o caboclo que encontrou a imagem original de Nossa Senhora de Nazaré no igarapé que passa, hoje, por trás da Basílica Santuário, no bairro de Nazaré, área nobre da capital paraense.
Contudo, a partir do momento em que os milagres da Santa começaram a ser propagados, que despertou o interesse de pessoas para conhecer esta pequenina e poderosa imagem, que a multidão começou a se formar em torno do que antes era uma humilde procissão, o novo costume começa também a chegar. Os visitantes vindos do interior traziam para casas de parentes em Belém, aquilo que tinham de melhor, como patos, galinhas, perus.
E por que acontecia isso? Acontecia porque as pessoas, de poucos recursos, haveriam de participar da caminhada do Círio e teriam de ter o que comer. E nada melhor do que preparar uma comida especial, já que estavam passeando por Belém.
Anos se passaram e o almoço já estava anexado à tradição do Círio de Nazaré, tanto é que, hoje, a comercialização de produtos para o chamado “Almoço do Círio”, já desperta o interesse de estudiosos e de institutos de pesquisa como o Dieese. Na semana que se passou, por exemplo, foram divulgados os números, em cifras, das previsões financeiras do Círio deste ano que chegam a R$ 700 milhões.
Certamente que a preparação para o tradicional almoço, em todas as residências católicas de Belém, da mais rica à mais humilde, é contabilizada nessa previsão orçamentária, como explica o diretor do Dieese Roberto Sena.
Lógico que, neste ano, assim como em anos anteriores, os valores estão bem maiores. Um pato, por exemplo, não sai por menos de R$ 25 reais em um supermercado. Comprá-lo vivo, na feira livre, está na faixa de R$ 50 a R$ 80. O pato-no-tucupi requer ingredientes como tucupi, jambu e sai bastante caro, assim como a maniçoba, outra iguaria da culinária paraense que não pode faltar no almoço do Círio.
Todavia, conforme as posses de cada um, há quem prefira o peru, o pernil ou mesmo a carne assada de panela com salada de legumes, alface e pepino. “O que importa é a gente fazer o almoço especial, reunir com a família e se alegrar depois de participar de uma festa tão maravilhosa em honra de Nossa Senhora”, como diz Cláudia Cristina de Souza, que todos os anos presencia sua mãe alegre a preparar esse almoço com todo o carinho, o que já é uma tradição não apenas do povo, mas da própria família.

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