O Círio compõe onze romarias


Interior da majestosa Basílica Santuário de Nazaré, com teto todo feito em cedro paraense. Uma das mais belas construções arquitetônicas datada do século passado na capital paraense.


No princípio do Círio de Nazaré havia, especificamente, duas romarias: a trasladação, quando a imagem é levada, na Berlinda, do Colégio Gentil Bittencour, até à Catedral Metropolitana de Belém, de onde sai a grande romaria do Círio, no domingo, e o Círio. A Trasladação já funciona como uma espécie de Círio Noturno, com velas e grande multidão, corda e tudo o mais.
Depois, foram introduzidas, na programação, a Romaria da Festa, que acontece no último dia da festividade, o Recírio, na segunda-feira depois da festa com a queima tradicional dos fogos de artifício em homenagem a Nossa Senhora de Nazaré, e a Romaria das Crianças, no segundo domingo da festa.
O Recírio é a última oportunidade de os fiéis verem, de perto, a imagem peregrina de Nossa Senhora. Em procissão, em um andor, Ela dá a volta pelo Conjunto Arquitetônico de Nazaré, onde é celebrada a missa às 6h30, e levada de volta ao Colégio Gentil Bittencourt. Antigamente, a santa ficava na capela do Gentil até o dia da próxima trasladação, o que não acontece mais, porque a mesma imagem é levada para uma série de eventos da Arquidiocese de Belém, é venerada também no interior da Basílica Santuário, durante grandes celebrações ou outros eventos. Assim, no Recírio, acontece a procissão mais como uma espécie de tradição.
São sinais dos tempos, diz o jornalista Eduardo Queiroz, especialista em Círio de Nazaré e que destaca o surgimento de outras romarias que foram introduzidas à programação do Círio, como a Cicloromaria, Motoromaria, traslado da imagem para Ananindeua, romaria rodo-fluvial, entre Ananindeua, Icoaraci, Baía do Guajará e Escadinha do Cais do Porto, no início da Avenida Presidente Vargas, a principal via do centro da capital paraense. Por fim, tem a Romaria da Juventude, que tem o objetivo precípuo de catequizar os jovens de hoje para o sentido de ser e fazer igreja.
Todas essas romarias são cercadas de muitas expectativas, porque passam por diversos pontos de Belém e Zona Metropolitana, proporcionando a que mais pessoas possam venerar a imagem de Nossa Senhora de Nazaré, que passa abençoando aos lares.

IMAGEM PEREGRINA
Ainda faz parte da programação, como lembra Eduardo Queiroz, as visitas com a imagem peregrina de Nossa Senhora de Nazaré a diversos órgãos, departamentos, empresas. “A festa do Círio de Nazaré é uma magia que acaba envolvendo inclusive pessoas de outros credos religiosos”, afirma ele, lembrando que atualmente, a maioria das empresas realiza seu círio, mesmo que não seja com a imagem que é levada na Berlinda. “Todos os padres da Arquidiocese de Belém e até do interior, acabam sendo procurados para as mais diversas celebrações, que acontecem até às vésperas do Círio”, finaliza.

Almoço do Círio: tradição, devoção e confraternização

Perguntar como começou a tradição do almoço do Círio é ouvir histórias mil. Cada paraense que vai ao Círio, ou que não vai mas se empolga todo só com a chegada desta quadra maravilhosa que seria como o “Natal dos paraenses”, tem a sua própria versão. Todavia, o almoço não começou com o primeiro Círio, nem a partir das visitações na ermida erguida por Plácido, o caboclo que encontrou a imagem original de Nossa Senhora de Nazaré no igarapé que passa, hoje, por trás da Basílica Santuário, no bairro de Nazaré, área nobre da capital paraense.
Contudo, a partir do momento em que os milagres da Santa começaram a ser propagados, que despertou o interesse de pessoas para conhecer esta pequenina e poderosa imagem, que a multidão começou a se formar em torno do que antes era uma humilde procissão, o novo costume começa também a chegar. Os visitantes vindos do interior traziam para casas de parentes em Belém, aquilo que tinham de melhor, como patos, galinhas, perus.
E por que acontecia isso? Acontecia porque as pessoas, de poucos recursos, haveriam de participar da caminhada do Círio e teriam de ter o que comer. E nada melhor do que preparar uma comida especial, já que estavam passeando por Belém.
Anos se passaram e o almoço já estava anexado à tradição do Círio de Nazaré, tanto é que, hoje, a comercialização de produtos para o chamado “Almoço do Círio”, já desperta o interesse de estudiosos e de institutos de pesquisa como o Dieese. Na semana que se passou, por exemplo, foram divulgados os números, em cifras, das previsões financeiras do Círio deste ano que chegam a R$ 700 milhões.
Certamente que a preparação para o tradicional almoço, em todas as residências católicas de Belém, da mais rica à mais humilde, é contabilizada nessa previsão orçamentária, como explica o diretor do Dieese Roberto Sena.
Lógico que, neste ano, assim como em anos anteriores, os valores estão bem maiores. Um pato, por exemplo, não sai por menos de R$ 25 reais em um supermercado. Comprá-lo vivo, na feira livre, está na faixa de R$ 50 a R$ 80. O pato-no-tucupi requer ingredientes como tucupi, jambu e sai bastante caro, assim como a maniçoba, outra iguaria da culinária paraense que não pode faltar no almoço do Círio.
Todavia, conforme as posses de cada um, há quem prefira o peru, o pernil ou mesmo a carne assada de panela com salada de legumes, alface e pepino. “O que importa é a gente fazer o almoço especial, reunir com a família e se alegrar depois de participar de uma festa tão maravilhosa em honra de Nossa Senhora”, como diz Cláudia Cristina de Souza, que todos os anos presencia sua mãe alegre a preparar esse almoço com todo o carinho, o que já é uma tradição não apenas do povo, mas da própria família.

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