A verdade do procurador

Roberto Pimentel, especial para o Bip-News

Parece absurdo, mas estudo do Ministério da Saúde revela quediariamente no Brasil 290 mil pessoas dirigem alcoolizadas. E oexcesso de bebida muitas vezes destrava a língua e revela o caráter dohomem, emergindo aquilo que jaz no recôndito da alma. Foi o queaconteceu recentemente com um procurador do Estado, ao ser apanhadointeiramente sob o efeito do álcool, segundo teste do bafômetro, indoparar em uma delegacia de polícia, onde passou a lançar diatribescontra os policiais presentes, cuja conduta alcançou difusão nacional.Não tão jovem, nascido em berço de ouro, terceira geração de famíliatradicional de juristas, com o currículo recheado de títulosconquistados aqui e no exterior, ao se encharcar da “mardita”, da“manguaça”, como qualquer mortal, desandou em revelar o que se passaem seu íntimo. Está no Evangelho que “a boca fala do que está cheio ocoração”. A situação me trouxe à lembrança a batalha “tipo Davi eGolias” que a categoria de delegados de Polícia trava junto aoJudiciário contra o governo do Estado para ter seus vencimentosparitários aos da categoria do bebum multi-diplomado, a sonhadaisonomia, cuja luta se arrasta há mais de quinze anos, parecendo aindalonge seu desfecho. Os procuradores nunca externaram o que se imaginaque pensam de nós, mas um deles não conseguiu segurar. E “se achando”,como coloquialmente virou moda, até com certa razão, vomitou seuaziúme. Pois, sendo detentor de maior conhecimento técnico, defendendoo Estado dos ataques judiciais ao erário, a maioria motivada pela mágestão de seus agentes, a começar pelo maior deles, acha que merecegozar os privilégios de uma casta de servidores aristocráticos,enquanto, os policiais, que defendem mal, que se diga, não porque nãose esforcem, mas pela indigência de condições, mas defendem o cidadão,ou melhor, a coletividade, dos ataques à segurança de seu patrimônio eda sua vida, mesmo vivendo como os dahlits. Contra as imagens e sonsgravados dos fatos não há argumentos. Afora o crime de trânsito, pelasconcepções doutrinárias o procurador não cometeu desacato, porque,apesar de sua douta formação, não podia avaliar sua conduta quanto asofensas irrogadas à honra do servidor público no pleno exercício desuas atribuições. “Tu és um otário, eu posso de chamar de otário, tunão pode, sabia disso?”, “tu vai ser segurança de gente que vai tepagar, tu vai ficar gordo ... tu vai virar corrupto um dia ...”, “eusou advogado, eu sou procurador do Estado”, “tu sabia que tu ébabaca”? E nesse tom o doutorzinho desfiou tudo o que seu coraçãoguarda: o preconceito, o nojo, o desprezo, por quem desempenha umaatividade simples, modesta, humilde, mas tão importante, tãonecessária quanto a do advogado do Estado que enche a cara e saidirigindo pela cidade, colocando em risco sua vida e a de seussemelhantes, principalmente os pedestres. Se não fosse contido,poderia, sabe Deus, imitar o deputado paranaense que recentemente, emcondições semelhantes, ceifou duas vidas ainda jovens. Devia ele ficareternamente agradecido por ter sido preso, interceptado ainda comvida, sem maiores prejuízos para si e para outrem, com sua integridadecorporal preservada, diferentemente como ocorreu com o parlamentar,evitando maiores dores a sua família e famílias alheias. Em outropaís, quem sabe, mesmo que não fosse para a cadeia, ele iria passarsemanas realizando serviços educativos à comunidade, como forma deminorar seu ato, não bastando seu mea culpa simplório. Mas, um fatofoi revelado: o conceito que o procurador tem de policiais, incluindodelegados, contra quem litiga em prol do Estado.

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