São Bernardo: o mundo cão na visão criativa do escritor Graciliano Ramos

ROBERTO BARBOSA

Acabo de ler a obra “São Bernardo”, do escritor Graciliano Ramos, que narra uma história bem brasileira do homem que nasce pobre, vence por métodos nada honestos e acaba encontrando o inferno antes da morte, martirizando-se sozinho e tentando responder, para si mesmo, os porquês de sua vida. Quem lê um enredo e não identifica, nos entre linhas, o personagem central da história, ou personagens com o autor da obra, pode afirmar com clareza que está manuseando uma obra-prima, posto que, seu autor, foi suficientemente artista para não colocar no fato os seus próprios traços. Ou seja, o escritor criou tudo, entretanto, não deixou que nada particular seu – além da obra em si, - saísse de seu controle para caracterizá-lo com o fato.
“São Bernardo” é assim. Um leigo, ao pegar o livro, vai pensar, inicialmente, que Graciliano Ramos estará contando a história do santo que, todavia, sequer é citado no enredo. “São Bernardo” vai se mostrar somente no terceiro capítulo como um sítio que poderá, se bem cuidado, dar muitos lucros. A terra pertence a um fanfarrão (Luís Padilha) que não tem competência nem cifras suficientes para levar avante o empreendimento, que acaba nas mãos de Paulo Honório, o herói da história, que não sabe ao certo quem foram seus pais nem, tampouco, a data de seu nascimento.
Paulo Honório é criado por uma crioula que trabalhava duro para sustentá-lo e o colocava para ajudá-la a vender guloseimas pelas ruas do interior alagoano. Jovem, ele se envolve com uma mulher casada e acaba por matar o marido dessa, pelo que, acaba preso por algum tempo. Ao ser liberado, passa a trabalhar exclusivamente enganando aos outros até iniciar a construção de sua fortuna e alcançar “São Bernardo”, que arranca das mãos de Padilha por uma bagatela. Empreende bastante dinheiro, faz dinheiro, passa a ser uma pessoa honrada, envolvida com o mundo político e intelectual, briga com outro fazendeiro espertalhão, o Mendonça e, depois, casa-se com linda professorinha normalista, à qual maltrata sem piedade sem saber que amava de verdade a mulher.
Eles chegam até ter um filho, do qual ele não gosta nem um pouco. Depois, Paulo Honório descobre que tem ciúmes e começa a perseguir a mulher, com quem briga direto. Um dia, a mulher resolver acabar com tudo e aí começa o inferno astral do herói, que entra na decadência e tenta escrever um livro contando como foi sua vida e nos farrapos em que se transformou depois de perder a amada.

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