Tia Chiquita


Francisca Barbosa, a Tia Chiquita, +1912-1975, in memoria

ROBERTO BARBOSA

No dia 8 de janeiro de 1975 morria Francisca Barbosa, operária do ramo de castanha-do-pará, que trabalhou em inúmeras fábricas a descascar o produto o dia inteiro; que enfrentou a fúria dos brasileiros, quase ao finalzinho da Segunda Guerra Mundial, querendo destruir a Indústria Alibert, o alemão Vitório que, depois, morreria em função de complicações de saúde que teria adquirido quando tocaram fogo em sua empresa, às margens da Baía do Guajará, no porto do Genipapo, bairro do Telégrafo.
Chiquita, como era mais conhecida, era uma senhorita que se guardou por toda a vida, sempre fiel ao catolicismo nas igrejas de São Raimundo Nonato e Perpétuo Socorro. Viveu para cuidar de sua irmã Didi, da sobrinha Laura e dos filhos dessa, Roberto (este que vos escreve) e Fátima. Depois viria a Francinete, que ela ainda ajudou a criar por pelo menos três anos.
Tia Chiquita teve uma participação muito especial em minha vida. Foi ela que, nos tempos da repressão e de dias muito difíceis, recebendo apenas um salário mínimo de aposentadoria do antigo IAPI, que mal dava para sobreviver – igualzinho como acontece hoje, - me ensinou a ler, procurou escola para mim e me educou na religião. Ela adorava ler, ensinar. Talvez daí tenha eu enveredado pelos caminhos das letras e do jornalismo, meu ganha pão, mas também, meu ideal de vida, meu lazer, com o que faço cidadania, ajudo a escrever a história desta cidade, deste Estado, deste país, deste continenti, enfim, do mundo em que vivemos.
Todo mundo, quando vem ao mundo, já traz uma missão, a qual poderá perpetuá-lo na história da humanidade, na vida em família, na vida de igreja, no contexto social em que vive ou, mais especificamente, na vida de uma pessoa.
Talvez, hoje, seja eu uma das últimas pessoas a destacar que, um dia, neste mundo, esteve uma pessoa tão boa e caridosa, que muito representou na minha vida e que era a Tia Chiquita, cujos ensinamentos me ajudaram a ser a pessoa que sou e que tenho procurado perpetuar através, também, dos ensinamentos aos meus filhos e netos. Ela viveu para a família e para Cristo, dentro dos poucos recursos que tinha, mas, ao partir para o andar de cima, levou muita honra e dignidade, além de sabedoria e caridade, dons estes que não podemos atribuir aqueles políticos que hoje, exatamente por interesses politiqueiros, usam atitudes como o pedido de perdão para escapar da punição social, depois de terem furtado os cofres públicos, pisando sem piedade no escárnio dos miseráveis que não tem nada para sobreviver e dos quais mais tiram, como o direito de morar, o direito de viver, de ir e vir.
Viva a Chiquita, esta, sim, uma pessoa bacana!
Que Deus a tenha no céu!

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