Ex-Assessores denunciam falcatrua de vereador democrata em Oriximiná

Depois de eleito, graças ao coeficiente eleitoral alcançado pelo DEM, o vereador Joel El-Shaday quer multiplicar seus 711 votos, e ambiciona concorrer a Deputado Estadual apoiado pelas igrejas evangélicas

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Os escândalos políticos que se sucedem na Câmara de Vereadores de Oriximiná, no Oeste do Pará, chocam a população. Desta vez, as denúncias de corrupção partem de ex-assessores do gabinete do vereador evangélico Joel Araújo (DEM), popularmente conhecido como Joel El-Shaday.
Num cenário em que política, fé e interesses pessoais se confundem um pastor evangélico que prefere não se identificar diz: "Não é justo generalizar o caráter e as posições políticas só pelo fato de sermos evangélicos, assim como em qualquer instituição há aqueles que são bons e justos, também há aqueles que não são". Outros Pastores também foram procurados por nossa reportagem, mas não quiseram se manifestar.
O episódio veio à tona depois que a ex-secretária de gabinete, Idaiane Silva de Souza (24), enviou uma carta ao programa Tribuna Popular da emissora Radio Comunitária de Oriximiná - RCO/FM, onde ela pedia ajuda na luta pelos seus direitos e ainda relatava atos corruptos que teriam sido praticados pelo parlamentar. Idaiane, que também é evangélica, já havia trabalhado em outros momentos anteriores ao mandato, com Joel. Depois da vitória nas urnas, o parlamentar contratou Idaiane e seu marido, Eliézer de Souza Alves (32), além de Benedito Rêgo Ribeiro (45), para comporem seu gabinete parlamentar. Cada gabinete dispõe de pelo menos cinco assessorias. Os salários giram em torno de R$ 1,8 mil. Infelizmente até o fechamento desta matéria não conseguimos os nomes dos outros dois assessores de El-Shaday.
A carta foi lida no dia 10/03 pelo radialista Ray Santos. Nela, Idaiane revela que havia recebido apenas os salários referentes a janeiro e fevereiro de 2009. "De março até dezembro eu não recebi mais nada, pois eu e meu marido fomos demitidos”, denuncia lembrando ainda que, em março de 2009, o vereador teria se apossado do cartão da conta salário do banco, passando assim a movimentá-la livremente.
De posse do cartão, a coisa ainda iria mais longe. Joel, além de supostamente ter se apropriado dos salários de Idaiane, ainda a teria convencido da necessidade de contrair um empréstimo consignado em folha no valor de R$ 6 mil, que seriam pagos em muitas prestações ao longo dos quatro anos de mandato. O valor final da dívida contraída pela ex-secretária totalizaria algo em torno de R$ 9 mil. Esse dinheiro teria sido repassado pela secretária para socorrer o parlamentar.
Outro caso é o de Eliézer, que é vendedor de produtos a crediário. Ele teria sido convencido por El-Shaday a perdoar as dívidas dos clientes que confiassem seus votos ao político. Depois da vitória, a conta de R$ 6,5 mil, teria sido apresentada à El-Shaday pela renúncia das dívidas em troco dos votos. Da mesma forma teria acontecido com o também evangélico Benedito, ex-operador de equipamentos: “Cheguei a emprestar R$ 12 mil durante a campanha de Shaday em troca da promessa de uma vaga de assessor parlamentar durante quatro anos”, revelou.
A ex-secretária Idaiane, indignada, resolveu constituir a advogada Telma Siqueira Gato, para ir à busca de justiça. Telma explica que o entendimento é que: “O valor integral da assessoria recebida pelo marido de Idaiane, deveria ser entendido como uma ajuda para os dois". Mas sua cliente se sentia constrangida em reclamar os salários que não recebia e quanto à utilização de seu nome junto à instituição financeira. Além disso, temia em reclamar pelo cartão do banco, por pensar que poderia ser responsável não só pela perda do próprio emprego, quanto pela perda do emprego do marido.
O vereador Joel El-Shaday acredita que está sendo vítima de perseguição política. “A advogada dela é parente de um deputado estadual", disse. Apesar de não ter declarado abertamente, o vereador estaria se referindo ao Deputado Estadual Gabriel Guerreiro/PV, de quem de fato, a advogada é parente. Mas, a Dra. Telma, justifica que seu laço de parentesco com o Deputado, em nada tem haver com suas posições profissionais.
Além disso, El-Shaday acredita que as "perseguições" passaram a ocorrer depois que se lançou como pré-candidato à Deputado Estadual. Depois disso, ele estaria vivendo retaliações pelo fato de ter votado contrário ao aceite da denúncia de corrupção, apresentada na Casa pelo cidadão Diócles Soares.
No aspecto político, o evangélico El-Shaday orgulha-se em declarar que comanda as posições, do também evangélico, Vereador Louro Móveis/PV. Além disso, caminha no mandato orientado, pelo também evangélico, Toninho Picanço (PSDB), que por sua vez também controla as posições do colega tucano, vereador Neto Andrade.
Não é de se estranhar que El-Shaday se queixe pela mudança repentina de posição. Ele que havia sido um combativo parlamentar simpático às denúncias de corrupção contra o esquema comandado pelo presidente Ludugero Júnior/PV. Dessa vez, surpreendeu a todos. Há exemplo dos caminhos tomados pelo Vereador Toninho Picanço que, historicamente, nunca assumiu posições confiáveis.
Joel El-Shaday é um político que crê na impunidade, permissivo, usa da boa fé das pessoas para construir uma história claramente focada no benefício individual.

Quem é o vereador Joel El-Shaday
Joel Pinheiro Araújo (32) nasceu em Óbidos/Pa, passou parte da infância em Alenquer, antes de se mudar com a família para Oriximiná/Pa. Adalberto Nauar de Araújo e dona Lindalva Pinheiro de Araújo tiveram oito filhos, sendo quatro homens e quatro mulheres. O pai sempre sobreviveu da atividade comercial na feira livre de Oriximiná. De família evangélica, foi na campanha de 2000, que o então feirante iniciou seus caminhos na política - como cabo eleitoral de Fernando Andrade - naquela ocasião candidato a vereador.
De feirante a empresário, de empresário a vereador eleito nas eleições de 2008. Com a alcunha de El-Shaday que do hebraico se traduz "Deus Todo Poderoso", Joel obtém 711 votos e alcança o mandato graças ao coeficiente eleitoral obtido pelo Partido Democrata. Nesse mesmo ano, o político capitaneia um levante frente às lideranças da Igreja Assembléia de Deus, acusando o então pastor de ter se assenhoreado do patrimônio da Igreja e também entendia que a obediência jurisdicional devesse à convenção COMIEADEPA.
Suas mobilizações acabaram por provocar uma divisão na Igreja Assembléia de Deus que há cinquenta anos caminhava unida. Os caminhos escritos por Joel acabaram por afastá-lo de seu principal correligionário político, o Vice-Prefeito Fernando Andrade, que se manteve simpático à configuração original da Igreja e sempre se posicionou contrário à divisão da instituição.
Escolhido pelo executivo como líder do governo na Câmara, impetuoso, Joel inicia o segundo semestre do primeiro ano de mandato se posicionando contrário ao governo e renuncia a condição de líder do governo. Alegando desprestígio por parte do executivo, o político demonstra aparente firmeza e independência em suas posições. Aliado aos vereadores também evangélicos: Louro Móveis/PV e Toninho Picanço/PSDB, juntamente com o vereador Neto Andrade (não evangélico), aceitam investigar as denúncias de corrupção apresentadas a Casa.
De iniciativa do grupo, Joel se lança como pré-candidato à Deputado Estadual, alegando apoio das Igrejas controladas pela Convenção COMIEADEPA e de outras Igrejas comandadas por seus parentes em diferentes lugares do Estado. No inicio do segundo ano de mandato, endividado, teria aceitado os conselhos de seu colega, vereador Toninho Picanço, e começa a mudar sua posição política e aceita negociar com o - antes acusado de corrupção - presidente Ludugero Júnior e com o prefeito Luiz Gonzaga.
O escândalo acontece, quando o político demite - de uma única vez - três de seus assessores. Vem à tona uma história de corrupção, intriga e ambição na guerra pelo poder.

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